sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Vírus da zika ataca cérebro de pelo menos duas formas

Até agora, as pesquisas sobre zika e microcefalia mostravam que o vírus conseguia entrar nas células responsáveis pelo desenvolvimento do cérebro porque se ligava a uma proteína chamada AXL, existente na superfície dessas células. Mas um estudo conduzido pela Universidade Harvard e publicado ontem na revista “Cell Stem Cell” mostra que o vírus da zika consegue invadir as células cerebrais mesmo sem esta proteína. Isto é, a AXL não é a única via de entrada para a infecção por zika.

As células responsáveis pela geração de neurônios e pela construção do cérebro à medida que o embrião se desenvolve são chamadas de células progenitoras neurais (NPCs). De acordo com a pesquisa, mesmo quando essas células não produzem a proteína AXL em sua superfície, o vírus consegue atacá-las.

— Nosso achado realmente recalibra este campo de pesquisa, porque nos diz que ainda temos que descobrir como o zika está entrando nessas células — disse Kevin Eggan, um dos autores do estudo e professor de Harvard.

Se, antes, a ideia de muitos laboratórios era impedir a entrada do vírus da zika nas células apenas por meio da inibição do contato com a proteína AXL, agora os cientistas de Harvard dizem que apenas isso não será suficiente para acabar com a epidemia de microcefalia.

— É muito importante para a comunidade científica saber que ter como alvo a proteína AXL por si só não vai ser o bastante para defender (o cérebro) do zika — destacou Ajamete Kaykas, investigador sênior em neurociência no Instituto Novartis de Pesquisa Biomédica (NIBR), que também participou da pesquisa.

— Pensávamos que as NPCs que não tinham AXL não seriam infectadas. Mas o que vimos é que estas células são tão infectadas quanto as células normais — sublinhou Max Salick, também do NIBR e coautor do estudo.

TRANSMISSÃO SEXUAL 

Enquanto isso, a Autoridade de Saúde Pública da Inglaterra (PHE) informou ter registrado na última quarta-feira o primeiro caso de zika transmitido sexualmente no Reino Unido. A paciente, que não está grávida, contraiu o vírus após se relacionar com um parceiro que havia retornado de uma área com incidência da doença. Ela se recupera bem.
Fonte: O Globo